Dizem sempre que primeiro amor é o que é o verdadeiro, o que permanece. Pensei no meu primeiro amor. Meu primeiro amor foi forte, bonito, intenso, exatamente como nos meus primórdios sonhos românticos. Foi o típico amor adolescente com o característico príncipe encantado, fazendo jus a todas as minhas utopias. Depois desse amor mágico, nada havia sido tão lindo quanto meu pior pesadelo. Experimentei na própria pele aquela poesia de Camões, do fogo que arde sem se ver, da ferida que dói e não se sente, da dor que desatina sem doer, do contentamento descontente. Amei quem disse que nunca amaria, quem reneguei, quem atirei pedras. Amei alguém que nunca admiraria, por não ter pensamentos inteligentes, filosóficos. Amei, pela primeira vez na vida, não uma ideia, mas uma pessoa. Não sonhos, mas carne, ossos, cheiros. Amei porque aprendi a admirar o meu oposto, porque entendi o que significa respeito. Amei alguém que me tirava do sério, que me irritava a alma, que fazia o furor tomar conta de mim, amei deveras e fortemente. Amei tanto esse alguém que apaguei tudo o que lhe escrevi, joguei fogo nesse amor, nas minhas palavras, nos planos e nas promessas. Amei alguém que fazia de mim um ser humano melhor, que buscava a humildade, que deixou, de lado, todos os orgulhos. Acho que amor mesmo é isso aí, é quando chega alguém que faz a gente abaixar a crista, sentir-se pequeno diante de um sentimento tão grande, tão vasto que consegue ultrapassar todas as nossas idealizações. Tarefa fácil é amar alguém com quem se teve sintonia, quem compartilha com você as mesmas afetividades. O difícil e talvez real do amor, é quando a gente se pega amando o oposto. Talvez seja nesse ponto que a realidade se separa da ilusão, amar quando não se entende nenhum porquê. Amar, porque mesmo dizendo que nunca amaria, amou. Porque mesmo amando, foi -se. Porque mesmo indo e com a promessa de nunca mais voltar, volta. Porque mesmo voltando, ainda mexe como no primeiro olhar.
RECOLHIDO POR LUIS HENRIQUE
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