terça-feira, 25 de junho de 2013

O que é isso ?



Seguir em frente, ter brilho nos olhos, ter sentimentos expostos e dividi-los com o próximo. 
Nossa..., mas que belo é. Que brilho nos olhos tenho ao ver o brilho dos teus. Que diálogo diferente silencioso... que diz tudo. 
Que pede um abraço, que pede um beijo, que pede para sair daqui, mas que tudo o que quer é que chegue mais perto. E quem vê e entende esse diálogo, sim, sabe disso e chega mais perto ainda. Num tom irritante, mas que se não fosse assim não seria carinhoso. Num tom que é totalmente ao contrário do que se lê ou não. 
Que lindo interpretar tudo isso... 
Mil palavras em um décimo de segundo, ao ver o próprio brilho no brilho do próximo, e continuando nesses reflexos para chegar a um caminho infinito que é uma viagem maravilhosa em que, quem a faz, se sente no berço. Se sente num cobertor muito poderoso e mágico que está fora de todo mal que possa existir na galáxia inteira, foge de qualquer lugar que seja real, de qualquer grão de areia, de qualquer planeta, de qualquer maldade. 
Isso tudo em apenas décimos de segundos, nem um terço do que é o amor. 
Amor não se explica, uma hora se vive, ama, conhece, e de olhada em olhada, brilho em brilho, se sente o que é o amor. Ninguém explica para ninguém o que é o amor, a não ser a vida que mais do que explica, te mostra e "taca" no teu peito essa coisa forte que faz você fazer qualquer coisa. 
Qualquer coisa mesmo, desde que o brilho seja sincero, e a única coisa dentre todas a mais "acreditavelmente" real.

BRUNO ZAPPI

IMPASSE



Vida. Ò Vida!
O que faço não te vale de serventia?
Para que finalmente possa eu um dia,
entender!
Não a ti, e sim
a mim.

Lembro-me do dia em que comecei...
Após noites em claro que passei
E as tantas luxúrias que para trás  deixei!
Sem saber se o que fazia,
Valeria a tão forte prometida.

A cada dia que encerra
É como uma batalha que se encarcera,
E não um dia vencido,
Mas um a mais apreendido..

Nesse vai e vem de dizeres
Após tanto suor para lá chegar
a tão grande e almejada conquista
Paro-me de perguntar,
Para ai sim poder afirmar:
Que por mais árdua e tenebrosa que seja
Por mais altiva e insegura que fora
Toda  batalha valeu a pena
Pois minha alma, ainda está plena!

HEITOR ALEX

terça-feira, 4 de junho de 2013

Que língua é essa? A que engana!



Oh dama, que sempre ajuda a me expressar. Perdão pelos que te confundem com um homem por pura ignorância, ao lhe chamarem de português. Mesmo sendo um ato feito com tua própria arma, não te preocupes. Muitos sentem vossa mercê e a conhecem desde garota, ou conhecem você mesmo só a de agora, ambos te chamam pelo nome verdadeiro Língua Portuguesa.

Dama com "D" maiúsculo, de "L" e "P" também! Perdão pelos que te maltratam até mesmo julgando-a, ou melhor, conjugando tuas ações de uma forma equivocada. Não obstante, há os que por vossa mercê param um tempinho só para pensar como julgar, ou melhor, conjugar tais ações. Só para não desagradar-te

Oh dama poderosa, arma que requer treino para portar, seja para matar o próximo de dor, seja para matar o próximo de amor. Dama inexplicável, docilmente agressiva, agressivamente dócil, uma loucura.

Oh dama. A sábia. A que prestou atenção nos detalhes. A que diferencia azul, de azul escuro, de azul claro, de azul celeste, de azul marinho, de "azul bebê", e não simplesmente "blue". Melhor usar um ser que muitas damas um dia sonham em cuidar para dar a este mundo, do que usar algo que possa significar triste. Coitado do azul, quando chamado, de "blue". Vossa mercê até nisso pensou, salvou o azul de todos.

Oh dama, empresta tantos adjetivos para um rapaz cantar e conquistar outra dama, ou até mesmo uma dama conquistar um rapaz. Ou até mesmo um rapaz conquistar um rapaz e uma dama conquistar uma dama. Na amizade, na paixão, no amor... Mas os que tratam vossa mercê bem, os que te conhecem, os que te sentem, sabem quando adjetivos soam verdadeiramente ou não. E conhecem os adjetivos.

Quantas coisas dama, substantivos que nomeiam, sejam próprios ou impróprios. Não para menores de dezoito! Sejam comuns ou incomuns. Tantas conjunções e simples pontuações que dão o sentido e a entonação, tantas conjunções ou simples pontuações, que dão o sentido, e a entonação.

Farei minha parte dama, cuidar-me-ei quando for julgar tuas ações, ou melhor, conjugar tuas noções.


BRUNO ZAPPI

segunda-feira, 20 de maio de 2013

SEM TÍTULO



As inspirações surgem no vácuo absoluto, onde sua bolha contingente, contém, além do vácuo, ecos luminosos, passageiros, porém infinitamente certos de que acontecerão. Esses focos de luz, não tão frequentes, podem ser multiplamente comparados aos sons de uma harpa, cujo braço que a toca está sempre disponível ao sutil toque necessário para a realização inspiracionista. Esse membro, onipresente, tem uma única e simples necessidade, que é a determinação. Essa força provém da conversão da vontade de ter o realizado, na ação. Essa é a maior dificuldade, seja para tocar a harpa, seja para estudar, ou mesmo para realizar qualquer atividade no cotidiano. Se você não reconhece essa dificuldade, talvez você não passe de um "sortudo", ou talvez de uma pessoa comum, mas se você a reconhece, bem vindo ao meu clube.

LEONARDO VIESTI

sábado, 18 de maio de 2013

Ausência



Sentimento profundo,
Que aperta o grande peito.
Pensamento oriundo,
De diversos polegares de seu leito.

Ferida que dói e se sente fortemente.
Das terras dos cafezais onde canta o Sabiá.
A cada raiar uma lágrima crescente,
Aumenta essa tensão que com o tempo aumentará.

Que o ventre muito sente,
Da falta de sua criação.
Que a distância muito mente,
Para o pobre coração,
Que fica alegremente
Vendo a linda verdade,
Que surge subitamente,
Ó! que saudade...




LUIS HENRIQUE RIO GONÇALVES

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Soneto do Amanhecer




A nuvem engana.
Talvez chova, talvez raie
Um brilho de Sol que pode levar
e tudo isso passa...

Fingir que nada acontece,
mesmo rezando para que aconteça.
Acontece o que se pede,
E não há quem agradeça...

Da luta por viver,
sem perder o sentido da vida,
Vivo. E tudo isso passa...

O resto não importa,
A minha vida passo escrevendo,
a outra parte vou vivendo.
DOUGLAS FELIX

"Corre Valente!"



Corre valente!
Espera teu amanhecer acordado,
Prediz teu anoitecer passageiro.
Afinal, reconhece, és o vaso ou o oleiro?

Tens vida, oh garrida vida...
Frios não esperam teu vibrar,
Reconhece! Como não falar?

Como sois forte
Afável ser...
Traças logo esse teu norte.
Tenaz caminho, pois se sentes...
sabes.

MAURILO SANTOS

domingo, 5 de maio de 2013

LIVRE PENSAR


Quando algo de importante acontece,muitas pessoas se habilitam para saber o que aconteceu realmente. Observam o ocorrido, para ter detalhes do que se passou , e não ligam para opiniões contrárias.
Mas entre estes um está com os olhos voltados para fatos inéditos, acaba percebendo que em seu próprio habitar ele tem algo que vale mais que este fato,algo que jamais tinha visto. Ele vê que a mídia não influenciará ele em nada pois ele espera e acredita que o que ele tem,mesmo que outros falem que aquilo não é, ele espera e confia em sua esperança. Por outro lado aqueles que querem investigar tal ocorrência não se dão conta do que está acontecendo ao seu redor, acham que está tudo as mil maravilhas, enquanto aquele não liga para nada disso e deixa levar pelo seu sentimento e confiança. Mas a pouca parte presta atenção no que a sociedade acaba fazendo com os povos que não têm condições de vida tão boa quanto a de um de classe média alta"no caso topo da lista". Esta pequena parte tenta ajuntar-se para formar um grupo que possa dar esperança as mais necessitadas. Com este pequeno grupo pode se ter noção de uma força, mesmo sendo pouca, mas mãos dadas a união fica mais forte.
Ajudar quem esta embaixo subir um degrau não é difícil e sim gratificante e com certeza guardaremos essa boa vontade para o resto de nossas vidas.

Felipe Pena

"E nasce mais uma vez o homem"


E nasce mais uma vez o homem
Homem que nasce, homem que chora
Homem coragem, homem que vai embora.
Homem saudade, homem chegada
Homem abraço, homem morada.
Por que sem ri? Risos tem com outros seres
Perto em si, não inquieto-me a rir
Forte é, quando convém ao outro
Fraco é.
Olhares, ditos valores; desvalores
Visão repetitiva
Mesmas pessoas, mesmos conceitos,
Mesmas batalhas.
Mas como, se vê?
Constante túnel
Ou melhor, túneis.
Dito luz, dito túnel.
Porém o que transforma-o em vida
É a dita esperança...
E nasce mais uma vez o homem.

MAURILO SANTOS

quinta-feira, 21 de março de 2013

3 passos do dia




Vive vivendo, abre a porta de seu lar sorrindo com a companhia do impulso da busca ao desejado objetivo que só tu sabes o quanto queres.
Caminhe firme, vá com fé. Sorria, chora, corre, anda. Não olhes muito para o relógio para que não pules os degraus do caminho por pressa, mas não esqueça de vê-lo de vez em quando para que não percas a hora.
Chega ao destino, dê o seu melhor, conquista o que há de bom, aprenda, cresça. Absorve tudo de essencial, e o ruim jogue na lixeira, porém, sem esquecer que ruim passaste, já que anotaste em um rascunho a lição aprendida. Enfim, volta para teu lar, grande ou pequeno, simples ou não. Apenas vá descansar e sentir a segurança que o mesmo te trás. Tu mereces guerreiro, mereces agora um descanso depois de mais um dia de batalha rumo a vitória da guerra.

BRUNO ZAPPI

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

O VERDADEIRO SENTIDO DA LÂMPADA EMPOEIRADA




Não sei se meu nome será lembrado, mas sei que meu nome já teve sentido se morri vencendo e perdi ganhando, disso já foram as lembranças são as que podem transbordar o coração, as lembranças também podem nos corroer até não sobrar uma veia pulsando como lambaris á beira do riacho. 

O tempo pode ser o maior amigo, ou pior inimigo ou simplesmente um companheiro de marchada ás vezes o futuro parece não ter sentido, o presente muito menos, mas o passado conta como um sinal diferente no extrato, porém tudo que é presente se torna passado e tudo q é futuro se torna presente, por isso agente chega no outro e vai embora meu nome já foi digno de silêncio, meu nome foi digno de ironia, meu nome foi sinônimo de mentir, meu nome foi símbolo de luta, meu nome foi gesto de amizade com tudo isso tenho orgulho que meu nome foi pronunciado Deus não da um fardo maior que agente não possa carregar quero carregar logo esse fardo, mas o presente agora predomina se meu nome não for lembrado pelo menos já teve sentido posso andar remoído, chamado de desprovido mas o que ninguém sabe é que eu sou vivido, com o mundo a descobrir por isso que digo q vou levar e aguentar sem questionar, porém quando não tem aonde se esconder e a única palavra q grita nesse silencio insano é concorrer não sei se nessa luta vou sobreviver, para isso terei de ler por isso peço calma para ler, paz para entender e esperança para crer com uma pitada de pimenta e campo de girassol um gênio surgi de uma lâmpada empoeirada e esse meu amigo que me domina e aparece de vez em quando que me ergue e todo o resto fica pequeno, caminha comigo até o fim da estrada.

Gustavo Amaral

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

O Poeta



Eis que surge o poeta...
Tão frágil e simples
Um sopro do vento o derrubaria,
Mas uma mão amiga o acolheu
E sem demora ele cresceu...

Eis que surge o poeta...
Tão novo e assustado
Imensidão de ideias o circunda
Estupefato mas não paralisado
Acolheu cada uma...
E sem demora foi crescendo...

Eis que surge o poeta...
Tão audaz e corajoso
Ousa inovações
Arrisca mil
Conquista  nove
Os nove mais gratificantes
Gloriosos...
E sem demora continuou crescendo...

Eis que surge o poeta...
Consagrado realizado
O medo se esvaiu
Um estilo estabeleceu
Flexível se expandiu
Sua obra se enalteceu...
E sem demora ele conseguiu...

Eis que surge o poeta...
Apagado esquecido
No seu auge,
O soldado surgiu
Frio e cego
Inibindo ideias
Calando o poeta...
Que sem demora, sumiu...

Eis que ressurge o poeta...
Renovado preparado
Firmou seu lugar
Aprendeu
Continências não contem ideias
Renasceu...
          Com poemas encantou novamente
Mas agora, soldado-poeta...
Que sem demora se estabeleceu...


Breno G. Bordoni

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

NÉVOAS




Não há quem possa entender a vontade de meus ossos gélidos pela rotina, esperando, ansiosos e sem pudor, para chegar ao fim do dia. 

Eles aguardam, como uma criança a espera de promessa. Como uma ave, que permanece imóvel a alvorada pra seguir caminho. Finalmente quando chego, posso me acalentar nas minhas manias, meus costumes, minhas besteiras. É bom quando posso olhar e dizer: "isso é meu". Conforta-me, como se eu tivesse descoberto uma invenção de mim mesma! Reinvento-me hora sim, hora não. Ninguém precisa entender. 

Sei que as minhas coisas do meu jeito, me recebem como sou. Posso encontra-las triste, sorrindo ou cansada. Não preciso forjar humores, fingir interesses ou abrir um sorriso sem graça. Já as conquistei. 

Quando ninguém parece ouvir, quando eu não quero dizer, quando tudo já foi dormir, elas estão lá. Consumo letra por letra, nota por nota. Sou consumida por tudo isso também. 

No fim de tudo eu sempre vou ser assim. Inconstante e livre. 

És meu, mas não sou tua. Sou pássaro. Sou minha. 



Preguiça. Calor. Vontade. Suspiro. Música. Você. 

Riso. Caminho. Céu. Tarde. Janela. Você. 

Vento. Noite. Lua. Grama. Lembrança. Você. 

Medo. Espera. Aperto. Alma. Palavra. Você. 

Único. Perdida. Sozinho. Mãos. Foto. Você.

PEDRO THOMAZINI


Café da manhã


(Parte I) [Tempero]

Em um misto de brincadeira com sabor de morango

Você é a minha fruta mordida, é meu verso, meu dia

é o sorriso no fundo do doce da minha vida

é o seu sorriso sério com ar de menina

que me puxa pra sala, pra varanda e pra cozinha,

A gente faz de conta, faz de conto

realidade misturada com sabor de morango


(Parte II) [Mistura]

Me faz de café!

Mistura a saudade, dissolve a tristeza

Deita na cama, me conta teu sonho

Não pega no sono, conversa comigo

Fica mais um pouco, esquece esse mundo

Eu sou seu amor, eu sou seu amigo...

(Parte III)[Café de você]

O som gostoso da tua risada. O toque sutil das suas mãos. Seu rosto quando fica vermelha. Sua pressa pra procurar algo na bolsa. O jeito que você se cobriu com a minha blusa. Teu jeito envergonhado e seu olhar de canto quando percebe que olho pra você. O deslize das pontas dos teus dedos entre os seus cabelos. O seu bocejo com cara de criança. Seu jeito de cantar baixinho 'Yesterday'.O seu beijo. Os seus beijos. Teus lábios brincando de serem meus por um instante. Seus arrepios de frio. Seu jeito de discordar de algo com cara de desconfiada. Sua forma de lembrar de alguma situação citando o nome de algum amigo. A forma como você vira a garrafa, esperando a cerveja descer até a boca. Sua impaciência em ficar sentada numa mesma posição, sem parar de mexer as pernas. O jeito que olha quando conversa. O jeito que me conta da sua rotina. Seu jeito de se atrasar todos os dias. Suas músicas. Sua vontade de chuva. Teu jeito de protestar, de querer, de gostar. Sua mania de nunca achar que as fotos ficaram perfeitas. Suas roupas. Seu cheiro. Seu jeito de conversar baixo, sem dar importância se vai ser ouvida. Sua ideologia. Seu prato preferido. Seu amor pelo céu.

Eu? Eu sou seu também.

(Cada uma dessas coisas te faz única). Eternize a sua essência.

respondendo sua pergunta: Se eu não te conhecesse, não haveriam motivos.

Não haveriam sentidos. Eles podem ser só mais um ponto azul. (Nós somos o que queremos ser.)

PEDRO THOMAZINI

CORREDEIRAS


Depois de muito tempo, encontro minha função nesse corpo ínfimo, nessa dose de espírito, nessa partícula de poeira. A minha função é transcorrer cada cor tua, cada traço e cada expressão desta tela através da humildade de minhas letras brincalhonas. Essas, que só aparecem de vez em quando, que chegam ao romper da sua noite, quando já não se vê mais luz nem rostos, quando você repousa em seu íntimo que até ti mesma desconhece por inteiro. Minhas palavras vem hoje, pela tua manhã, com seu passo embriagado de poesia errada na forma colorida, te contar uma história. 

Trago a história de dois rios. Duas artérias de rios, que mesmo antes de se tornarem rios propriamente ditos, se uniram em um desalento confortável numa noite quente que foi tão singular e incomum, que seu calor provocava arrepios frios em ambos os rios. 

O primeiro deles era Amatsu. 

Amatsu percorria todo o ocidente, passando por caminhos rochosos e dolorosos. Há de se lembrar disso: Amatsu era jovem, porém sua alma ultrapassava milênios. Era rápido e perspicaz. Sabia das dores do amor e suas armadilhas, assim como já se deleitara por diversas vezes nas luxúrias e carinhos que o amor tivera lhe proporcionado. Porém andava cansado dos mesmos amores, mesmos sentimentos, mesmo desdém e mesmo final. Já conhecera todo tipo de amor, que no começo mostravam-se diferentes e frutíferos, porém repetitivos ao primeiro trincar de confiança. Vivia numa aldeia simples onde partilhava alimento com um grupo de camponeses e suas famílias. Sua história começa a se desmembrar com a chegada de Kunlun. 

Kunlun, jovem encantadora de províncias do oriente, tinha uma sensibilidade com o ambiente ao seu redor que poderia até chamar de algum dom especial que obteve. Em suas telas feitas de pergaminho desgastado, misturando um pouco de carmim à base de óleos vegetais, formava desenhos que surpreendia a qualquer um que passasse pela província do Oriente. Tinha cabelos negros, pele beijada pelo sol, e olhos intensos. Quando fitavam alguém, eram capazes de arrepiar até mesmo os mais gélidos. Kunlun tinha uma personalidade forte, fechada e discreta, porém quem conseguisse dissolver a muralha que ela criava para si mesma como defesa, e alcançasse seu interior, se perderia, como em um labirinto de emoções. Acho que podemos traduzi-la assim: um labirinto de emoções. 

Kunlun se envolvera algumas vezes. Uma coisa ela tinha certeza: nunca havia amado ninguém. Conversava com si mesma e dizia que 'Poderia sim, ter tido afeto, consideração e carinho por alguém..., mas amor? Não. ' Tinha um lado sentimental que ninguém conhecia, e guardava-o, se fosse preciso um dia. Caso não fosse, não faria falta. Kunlun aprendeu que tem de amar a si mesma. Certo ou não, isso ajudou-a a manter sua calma em relação ao sentimento, e manteve firme sua adoração por pintura e música. Ninguém podia tirar isso dela, e sendo assim, sentia-se satisfeita. 

A aldeia de Amatsu se encontrava a milhas de distancia das terras de Kunlun. Para melhorar as coisas, no caminho a percorrer ainda se podiam encontrar grandes punhados de montanhas e trilhas sinuosas. O povo de Kunlun não aceitara de modo algum a convivência e nenhum tipo de relação com a aldeia de Amatsu. Por anos haviam confrontos intermitentes e conflitos que derramavam sangue. Nem mesmo a lua permitia tal acontecimento. 

Amatsu, sempre curioso e a procura de liberdade, havia se perdido na rota da aldeia, e após dias, encontrou um pequeno amontoado de terra com grama repousada por toda a parte para descansar. Kunlun se encontrava ao topo, e como de rotina, desenhava os traços do alvorecer e uma parte da lua que ia se formando, tímida, porém sempre vigilante. Naquela época, a lua imperava sobre qualquer forma de vida que existisse, e suas leis eram fielmente seguidas à risca. A lua sentia-se formidável ao mirar Kunlun copiando suas curvas e contornando seu brilho admirável perante toda a humanidade. 

Eis que surge Amatsu, ao canto desse monte, com olhar de menino curioso para Kunlun. Ela, pelo seu dom de percepção, nota que está sendo observada. Amatsu aparece em sua frente. Ela se assusta, porém fica imóvel. Não trocam uma só palavra, nenhum tipo de som ou frase. Apenas se olham, como se seus olhos tivessem se encontrado anos após uma despedida. Ficam ali, se olhando durante muito tempo. A lua, enraivecida, desaparece. 

Durante todos os dias, Amatsu e Kunlun se encontravam. Em todos os encontros, os olhares se cruzavam, como se a saudade esmagasse cada parte de seus corpos. Era como uma queda d'água sob o coração de Kunlun. Realmente, tinha encontrado um ser que conhecia cada parte dela, sem ao menos terem se comunicado. Sentia-se tão feliz que tinha até medo. Era uma explosão de felicidade em seu labirinto de emoções. A cada encontro, a cada despedida, a cada olhar, ela sentia que conseguia captar o toque das mãos de Amatsu, o gosto do encontro de seus lábios sobre os dela, e até mesmo o peso de seu corpo sob o colo frágil de suas pernas. Sentia-se querida, e queria ao mesmo tempo. 

Amatsu respirava Kunlun. Não dormia, não pensava e nem sonhava mais. Sentia-se parte dela, como se ambos tivessem a mesma alma, e tivessem sido separados justamente para se encontrarem e permanecerem juntos. Não voltava a dias para a aldeia. Simplesmente esperava a mesma hora de todos os dias, e ia de encontro a Kunlun, para observá-la cada vez com mais detalhes diferentes, com uma essência diferente. 

Numa noite, tudo pairava diferente. Os ventos não sopravam delicados, os calores já não era tão confortável. Kunlun previa acontecimentos ruins. Amatsu não percebera, preocupava-se apenas em se encontrar com sua doce menina. Ao chegar no monte, o coração de Amatsu simplesmente parou. Não sentia sangue em suas veias, sua pulsação havia congelado com o que acabara de ver. 

Kunlun se encontrava imóvel, do mesmo jeito de todas as noites anteriores... Porém havia lágrimas. Lágrimas cobriam seu rosto como uma enorme tempestade de tristeza pairando em seu peito. Amatsu se desesperou. Correu para aproximar-se, mas o que viu atrás dela o deixou perplexo. A lua, a imperadora de toda a rainha dos destinos, estava avermelhada e com uma energia pesada, carregada. Num salto, suas formas tomaram um tom negro. Havia descido na terra, naquele mesmo monte, na forma de feiticeira. Amatsu e Kunlun permaneceram imóveis. Ambos tentaram se mover, mas toda e qualquer partícula de seus corpos permaneciam intactas. A lua, por sua vez, começou o discurso. 

"As minhas leis devem ser obedecidas por qualquer um que viva e pise neste solo. Vocês desrespeitaram a lei maior, e por isso serão castigados. Serão condenados a viverem para sempre, numa busca incessante um pelo outro. E que assim seja." 

A partir daí, formou-se um clarão pelo monte, cobrindo Amatsu, Kunlun e a própria lua. Esta por sua vez, desapareceu em névoa. A lua havia transformado Amatsu e Kunlun em dois rios. Um corre pelo Oriente e outro pelo Ocidente. O mistério dos rios é que não existem duas nascentes. Eles começam no mesmo monte, praticamente a alguns centímetros de distancia um do outro. Dizem que seu castigo é desabarem água por toda a eternidade, como se um procurasse pelo outro, como se procurassem a mesma troca de olhares à mais de mil anos atrás. A história se fortifica quando é verificado que os rios terminam em mares diferentes, nem assim podendo se misturar. O rio Amatsu e o rio Kunlun ficam mais fortes em Lua minguante. Dizem que é quando a Lua se esconde, e eles tomam velocidade para se encontrar de novo. 

Em que eu acredito? Que Amatsu e Kunlun não se procuram. Correm juntos. Sabem que o que sentem é mais forte que seu próprio encontro. Basta pensar, e num minuto, eles se reencontram em seus sonhos. Se olharem e sorriem, numa interminável noite quente de arrepios.

PEDRO THOMAZINI