sábado, 14 de abril de 2012

HISTÓRIAS



          O contador de história, em determinado momento citou de maneira inoportuna um acontecimento até certo ponto incomum, uma pasma expressão interpelou as faces daqueles que se mantêm presos aos bons costumes, entretanto a curiosidade soprava aos ouvidos aquela sensação excitante de maltratar a moral alheia, e então o criativo pôs-se a contar: 
          “As flores que inauguravam a arte terrestre do outono eram advindas da primavera, pois o esperado aspecto seco e entristecedor dava lugar ao arco-íris de uma cor só, que iluminava a feição de uma jovem encantadora, tão pálida quanto o olhar vazio daqueles que a cortejavam; era sentimental, dona de impulsos dignamente nomeados por espetáculos; a estrela do teatro dos anônimos, artista cujo público não existe e a obra configura-se em passado.” 
          A plateia vangloriava a descrição encantadora, e temia ansiosa por desfechos maliciosos e repletos de literatura, entretanto, o narrador ao retomar o uso da palavra, transformou a antiga alegoria em uma novidade indesejada, tomada de horror e insegurança. 
          “A realidade de um cenário que definitivamente não era cômico, ou apaixonante, pois as almas ali presentes eram dominadas pelo fantasma da incapacidade, que sobrevoava os presentes trajado com vestes de seda, negras, amedrontadoras, capazes de desatar as mãos até então, eram entrelaçadas pelo amor.” 
          O narrador, em um impulso poético, iniciou um choro forçado, de lágrimas alcoolizadas pelo veneno da inocência, capazes de embriagar o mais sólido pensamento humanizado; neste momento, a poesia era novela, de encenação dramática convincente, elegante aos passos dançantes de um bailarino contraditório. 
          O cansaço de um membro da plateia, até então calada e fascinada pela arte, esboçou a ignorância com quem a alegria compartilha aquele momento de puro constrangimento: 
“Dai-nos uma referência, que atribua sentido a toda essa beleza!” 
          A plateia voltava-se mais uma vez inundada por um mar de espadas, todas voltadas a um único e solitário escudo, que os respondeu com um simbólico agradecimento e um sorriso, acompanhados por uma única palavra senhora de todo o desfecho. 
          “Obrigado.”

Richard Carboni

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