Um jovem está num balanço do parque pensativo, um senhor já de idade avançada se aproxima:
- Pensando na vida?
- Às vezes é bom – responde o garoto sorrindo – E o senhor? Que faz aqui no parque?
- Venho apenas para caminhar... Faço isso para evitar pensar – diz o senhor com seu sorriso amarelo – Mas me diga, neste exato momento, em que está pensando?
- Paradoxos...
- Que paradoxos?
- As lições que os mais velhos e toda a sociedade me ensinam, sabe? Estão sempre falando sobre superar e “deixar pra lá”, e em outro momento dizem-me para brigar pelos nossos sonhos e “não desistir jamais”. Existem situações em que tais conselhos entram em conflito, e minha única saída e vir para cá, isolar-me e pensar, sem qualquer resposta...
O senhor senta-se no balanço à direita do garoto e diz:
- Meu caro, se encontrar alguma resposta definitiva sobre como lidar com situações na vida, garanto-lhe que terá sido o maior gênio da humanidade, – disse o senhor rindo – não se torture muito pensando demais em tais questões, a vida é difícil, eu concordo, mas ela é também simples, como em um jogo de xadrez, temos de decidir rapidamente o que fazer dentre poucas opções simples, mas isso não torna o jogo fácil, e é isso que torna o jogo prazeroso, faça um balanço rápido dos prós e contras, tome uma decisão com firmeza, mesmo sem possuir a certeza, e tente pensar nos próximos lances e visualizar a situação atual do tabuleiro. – o senhor deu um suspiro e continuou – Meu jovem, você sabe por que eu venho aqui?
- Não sei.
- Venho porque ficar em casa me obriga a pensar na vida, como você está fazendo agora, isso é péssimo, primeiro porque não vivo o resto de minha vida, e também porque todos nós, quando atingimos certa idade, já temos um grande passado para nos assombrar, agora me diga sobre o quê você tem dúvidas sobre desistir ou tentar?
- Não se trata de um único aspecto. Carreira, amor, sonhos, paixões... Tudo está completamente bagunçado em minha mente ultimamente. O que faço?
- Meu jovem, vá atrás das coisas que dependem apenas de você para o sucesso, pois em outras situações você pode estar sujeito a constantes decepções, faça o que faz de melhor da melhor maneira possível e vá atrás da vitória.
- Está me dizendo que devo desistir das pessoas?
- Estou dizendo que deve apenas desistir das que desistiram de você, e estar pronto para sofrer decepção das que ainda estão ao seu lado. A solidão é um fator que todo ser humano enfrenta.
- Mas deve doer, não?
- Sim, mas fica mais fácil. – disse o senhor sorrindo – E há uma boa probabilidade de que pelo menos algumas pessoas não desistam de você, e elas estarão lá para erguê-lo junto ao seu troféu, caso tenha sucesso, e para apoiá-lo em momentos de desamparo. Bom, agora devo ir, está próxima a hora de meus remédios – o senhor levantou-se.
- Tudo bem, também devo ir, deveres da escola. – respondeu o garoto rindo, e logo em seguida também se levantou – Mas antes de ir, diga-me, namorar, jogar jogos, ir ao cinema, conversar com os amigos, essas coisas um dia voltam a ser boas como o eram?
- Elas sempre foram as mesmas, quem deve reaprender a aproveitá-las é você. A felicidade não é o destino da viagem, mas sim o meio de transporte. Como eu disse antes, são as complicações que tornam o xadrez interessante, não reclame das dificuldades, admire-as.
Então despediram-se, ambos deram meia volta e foram embora, o senhor assobiando, e o garoto rindo baixinho.
FÁBIO CANEDO
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