domingo, 1 de julho de 2012

A arte e a bailarina, não necessariamente nessa mesma ordem.


A grande boca de milhares de vozes está no seu lugar de costume, armada de frases feitas e opiniões precipitadas, mas o show não pode parar, o maestro lê sua versão de bolso de um livro qualquer, os instrumentos de sopro exalam gravuras leves, buscando um equilíbrio sinfônico, algo compreensível e nítido, enquanto os guitarristas tem seu momento cômico arriscando uns solos clássicos e algumas partituras sem sentido que são de suas próprias autorias; as bailarinas elevam as pernas na altura dos céus, e fazem da elasticidade sua graça de espirito, demonstrando amor e beleza no momento em que perdura a dor, todos adoram as bailarinas. 

Se nem todos os membros do espetáculo foram citados, é porque alguns são dignos do esquecimento, a fama é objeto de luxo, nem todos são capazes de possui-la e neste caso, pessoas invisíveis são a ferramenta de glamour e enriquecimento dos privilegiados de carisma, e isso não é injusto, pois a invisibilidade pode te levar a lugares onde as luzes de maldizeres são incapazes de iluminar, e acima tudo não te afasta da solidão, sua única amiga verdadeira. 

As cortinas se abrem e sons procriam, é um nuance sereno, agradável ao mais crítico falastrão; como a bailarina está bela, intitular sua obra de “dança” seria uma ofensa sem dimensões imagináveis, as pontas de seus dedos são as mãos do mundo, abraçam o espectador esbanjando falsidade e conquistando seus extintos mais bem guardados, e não satisfeita, arrisca uma lágrima que se mistura com o já visível mar de emoções que faz salivar a boca da multidão. 

É impossível, não se é capaz parar de descrevê-la, agora salta, não com o esforço dos desabrigados de amor, mas sim com uma leveza tão bela quanto um amor infantil; mas as cortinas se fecham, e o objeto de cortejo da multidão torna-se tão invisível quanto o vazio que acaba deixando nos olhos de cada membro da plateia. Engana-se aquele hipócrita que afirma não ter ocorrido um final, pois a ideia de desfecho não seria tão perfeita se tocasse os lábios da bailarina, aliás, que lábios! 

Richard Carboni

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